A criança que chora sempre
quer dizer algo – fiquem atentos!
Do momento em que o
resultado anuncia “positivo” ao nascimento, “elas vêem” sob forte emoção de se
saber abençoada por Deus por esta benção
Ao nascer: a
incerteza de que são de fome, frio ou necessidade de troca
Meses depois: a
habilidade materna diz: “ih, já sei: é cólica...” ou... “foi mimado no final de
semana, chega segunda-feira não quer ficar no berço, só colo...”
Aos 12 meses:
“Filho, vamos dormir... seu mal é sono...”
Entre 02 e 03 anos,
na Escola: “elas surgem” quando se disputa um brinquedo, acompanhadas pelas
“doces mordidas”, muitas vezes, pois não se tem consolidada a área cerebral da
linguagem para dizer, com clareza: “eu estava desenvolvendo minha área da
criatividade, descobertas sensoriais e imaginação, com do manuseio do brinquedo,
e meu amigo veio e o tirou da minha mão”
Entre 04 e 06 anos:
“elas vêm aos olhos por tudo” – como dizem os pais e professores, porque mesmo
já em propriedade das palavras é difícil expressar sentimentos e separar os
ambientes em que vive; mas também se chora pelo machucado que vai arder no
banho, pela emoção do presente do Papai Noel. Outros “momentos” acontecem e aos
13 anos “elas afloram” desmedidamente pelo ídolo pop musical do momento e por acreditar estar sofrendo com o
primeiro amor
15 anos... Ah! Como
as meninas se debulham na festa de debutante... e os pais também!
18 anos: vem a
emoção da Formatura do Ensino Médio e o ingresso na Universidade
20 anos: raiva do
amigo que não entregou o trabalho e te deixou de “DP” na matéria mais chata,
passa a ser o motivo.
24 anos: a segunda
formatura de grande emoção – e o Ser Humano que ainda não o fez, as tem nos
olhos, por ingressar no mercado de trabalho e “brindar” a entrada na vida
adulta.
Nos próximos 10 anos,
a presença “delas” se dá por tanta coisa: o casamento, o nascimento do primeiro
filho, a primeira febre, o medo de não “se dar conta”, a primeira vacina
injetável, o primeiro galo na cabeça, a compra da casa própria, o titulo
esperado do Brasil em torneios esportivos, as vezes, o ingresso de um filho no
mundo das drogas, a reprovação escolar de um filho, a separação conjugal, perda
da bagagem no aeroporto, batida no carro novo, o chefe que nega seu projeto...
40 anos, muitos
patriarcas, já se encontram na 3ª idade, os acometimentos desta, os levam ao
falecimento, e aí o sofrimento da perda; acrescido da emoção pelas conquistas
dos filhos acompanham este período...
50, 60 e 70....
vive-se a dor da perda de um companheiro de muitos anos, o casamento dos filhos,
nascimento dos netos e bisnetos e aí... tudo é motivo para que “elas” estejam
presentes em nossas vidas: conquistas, derrotas, perdas, solidão, depressão,
dor física, datas passadas e re-lembradas, saudades, abandono dos filhos, a
contagem regressiva... tempos que não voltam mais!
Ah que bom se a
vida pudesse ser mensurável e assim, se pudesse prevenir e/ou evitar o momento
em que se chora.... Mas não é assim... Quantas crianças choram a perda da
separação dos pais já tão novas? Quantas pessoas sofrem com a dor física e
depressão aos 20 anos? Quantos já não sofreram com a perda de um ente ou grande
amigo, precocemente?
A emoção humana não
escolhe idade, sexo, tempo de vida, ela vem sob forte, significativo e
individual motivo. E a cada Ser Humano, em seu tempo, à sua maneira, sob maior
ou menor intensidade. E nem sob o choro, principalmente por ele, se tem
controle dos atos. É importante
destacar que as estruturas envolvidas com a emoção se interligam intensamente e
que nenhuma delas é exclusivamente responsável por este ou aquele tipo de
estado emocional. No entanto, algumas contribuem mais que outras para esse ou
aquele determinado tipo de emoção. Em nosso cérebro há duas estruturas
responsáveis pelas emoções: a Amígdala – uma pequena
estrutura em forma de amêndoa, situada dentro da região antero-inferior do lobo
temporal, que se interconecta com Hipocampo, Núcleos Septais, Área Pré-frontal
e Núcleo tálamico. Essas conexões garantem seu importante desempenho na
mediação e controle das atividades emocionais de ordem maior, como amizade,
amor e afeição, nas exteriorizações do humor e, principalmente, nos estados de
medo e ira e na agressividade. Em humanos, a lesão da amígdala faz, entre
outras coisas, com que o indivíduo perca o sentido afetivo da percepção de uma
informação vinda de fora, como a visão de uma pessoa conhecida. Ele sabe quem
está vendo mas não sabe se gosta ou desgosta da pessoa em questão. A outra
estrutura em destaque é o Hipocampo – que está
particularmente envolvido com os fenômenos de memória, em especial com a
formação da chamada memória de longa duração (aquela que persiste, às vezes, para sempre). Quando ambos os hipocampos
(direito e esquerdo) são destruídos, nada mais é gravado na memória. O
indivíduo esquece, rapidamente, a mensagem recém recebida.
No entanto, toda esta explanação é para “falar” mais diretamente, aos
pais da Primeira Infância, com filhos entre 04 e 07 anos de vida, que, por sua
vez, começam a consolidar, entender e viver com intensidade os sentimentos.
Nesta fase, a morte de um animal de estimação, a saída de um colega de sala, a
demissão da babá, a separação dos pais, o brinquedo perdido / quebrado, a
gestação da mãe, professora, madrinha ou tia muito próxima, a incompreensão dos
pais, diante de um desejo, tudo toma uma proporção maior; e que, dependendo da
administração familiar e escolar, este sofrimento pode ganhar dias e meses a
fio, levando a quadros precoces de Depressão Infantil.
É preciso “saber ler” o choro e a dor da criança com sua real
importância, que, por não saber externar, nem mesmo distinguir locais, transpõe
tal apatia a todos os ambientes em que vive. A investigação deve ser minuciosa,
pois o leque de possibilidades é grande. Muitas vezes, os pais, por serem
leigos em tal “leitura”, acabam por omitir dados e recorrem à escola, como
único ponto de conflito para o filho. Não, as coisas não podem caminhar desta
forma e a sugestão é, mais uma vez, a parceria Família – Escola, para trilhar
esta investigação. É preciso identificar o período que este acometimento vem
“se arrastando” e aí, dentro deste, saber identificar alterações vividas e
ocorridas, em ambos os ambientes. É preciso coerência e transparência no
fornecimento de informações. Não se pode deixar de pensar que na educação não
existem culpados, existem erros cometidos, às vezes inconscientemente,
acreditando-se estar agindo corretamente. A comparação ao amigo, irmão ou primo
é inviável, afinal cada um é único em seus sentimentos. A produção lacrimal
envolve inúmeros aspectos emocionais e fisiológicos necessários ao organismo.
Não se deve cercear o choro de uma criança, sem ser investigado o motivo; não se
deve acreditar que por tudo se chora, sem saber o que está desencadeando este
choro – a criança pode estar em sofrimento, assim, qualquer motivo é porta
aberta, à manifestação emocional – ela pode estar triste, por um dos motivos
acima citados e na escola, diante de uma lição, com o tema presente, ela chora,
e aí não se sabe o motivo deste.
A escola é o momento de maior interação e convivência da criança com o
social, independente do tempo em que ela lá permanece, por isso, tudo que se
vive em casa e que pode vir a fazer parte de uma alteração comportamental da
criança, deve ser trazido ao ambiente escolar, não como motivo de especulação e
invasão de privacidade familiar, mas é para que os profissionais que com ela
estão, estejam cientes que esperadas e possíveis reações, têm um motivo, e aí
saber como trabalhar, evitando, se for o caso, que o tema venha a surgir (como
a professora que pode “evitar” um tema de estudo, sabendo que o mesmo poderá
gerar incomodo interno ao seu aluno). A comunicação Casa – Escola deve ser
constante, caso contrario identificar o motivo deste choro, após algum tempo,
toma uma proporção tão grande, que a frase mais tranqüila é: “ah ele chora por
tudo...” e às vezes não é assim, a criança tem um motivo para externar seus
sentimentos, ajude-a!
Valesca Souza
Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia
e-mail: valescasouza@gmail.com
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