Há quem seja fã, há
quem deteste, há quem não usou com o primeiro e hoje não consegue “tirar” do
segundo (ou vive versa), há quem deu e hoje se arrepende e há quem deixa a
tempo do filho a decisão da retirada – não se importando com a idade e
possíveis malefícios. O fato é que milhares de mães usam chupeta e bicos há
séculos para acalmar bebês e vê-lo sem chorar, até quando seu choro nem é para
um pedido de chupeta.
Caros leitores,
normalmente redijo com base em informações e vivências dos temas abordados.
Para tais elaborações, utilizo fontes teóricas, mas coloco “muito de mim” em
minhas produções. No entanto, quando resolvi discorrer sobre este tema, achei
por bem, trazer traços mais teóricos para informação e conhecimento, afinal,
minha opinião é contrária a tal habito, mas acredito que a apresentação de
vantagens, desvantagens, benefícios e malefícios irá fazer com que vocês (pais,
mães e educadores) tenham suas próprias opiniões a respeito do tema. Muitos já
passaram pela fase inicial, de bebês recém-nascidos, mas acredito que nunca é
tarde para conhecer um tema, e que o mesmo “sirva” como norte para um outro
filho (futuro ou a caminho) ou mesmo, para que se informe a pais familiares,
amigos... que estão neste processo com seus filhos.
Segundo a
Fonoaudióloga Ana Paula Lutaif, muitos pais dão a chupeta sem saber porquê o
fazem apenas com a afirmativa de que: “todo mundo dá...”, “porque é costume”,
“porque acalma”, “porque prefere a chupeta ao dedo”. Para elaboração de seu
estudo foram realizadas inúmeras pesquisas, e após constatação de que não há
registros sobre a origem e inicio do período em que se iniciou a adoção, por
pais, do uso da chupeta, foi feito um estudo sobre a relação mãe / bebê, para
que, então, fosse feito um paralelo com tal habito. Mas...
Será que nossas crianças precisam da chupeta? Se precisam,
por quê? Para quê?
Para um bebê o que significa chupar um dedo ou uma chupeta?
Faz diferença?
A chupeta é uma necessidade dos pais ou do bebê?
Por que os pais preferem a chupeta ao polegar?
Por que as mães dão a chupeta e depois querem tirar
rapidamente?
Por que algumas crianças largam a chupeta e/ou dedo e outras
não?
O conceituado
Pediatra T. Berry Brazelton e o Psicanalista e Pediatra D.W.Winnicott estabeleceram
um estudo sobre a relação do desenvolvimento do bebê, buscando entender a
relação deste com sua mãe e a introdução ao habito da chupeta.
O choro: seja por
dor, satisfação, raiva ou pesar, quando está sujo, com fome, sede, sono, quando
quer um carinho ou mesmo quando está feliz, como apresenta Winnicott, é a
maneira única e direta de comunicação dos bebês. O choro constante de um bebê,
sem identificação da causa, chega, em alguns casos, a desestabilizar uma
família inteira, e tudo que um bebê precisa é de tranqüilidade no ambiente em
que vive, assim, recorrer à chupeta é o “caminho mais curto” para obtenção da
paz. O importante é inicialmente “se descobrir” o motivo pelo qual a criança
está chorando, antes de oferecer a chupeta.
Segundo a Fonoaudióloga
Jamile Elias, o uso da chupeta pode acarretar no desmame precoce, isso ocorre
porque a posição da língua com o uso da chupeta é diferente da posição da
língua quando o bebê suga o leite materno. Como sugar chupeta é mais fácil, ao
sugar o seio, na posição utilizada com a chupeta, o bebê encontrará dificuldade
para sugar o leite, desinteressando-se pelo ato, chorando de forme, em rejeição
ao peito.
As vantagens no
uso, certamente menor que as desvantagens, existe. E a principal delas, é o
acalmar o bebê auxiliando-a na hora de dormir; bem como no momento da dor,
auxiliando-a em cólicas, pois seu uso faz com que os batimentos cardíacos da
criança (que chora de dor) tendam a regularizar-se. Em casos raros, e ainda em
estudo, há a vantagem com a utilização com prematuros, que apresentam
dificuldade em pegar o bico da mamadeira / seio, para poder abandonar a
alimentação por sonda, neste caso, ela “funciona” como um treino do bebê para
sucção.
Há estudos, ainda
não comprovados, da utilização benéfica da chupeta com bebês para que se evite
a morte súbita e seu uso, associado ao dormir de bruços da criança, com muita
roupa, ou na mesma cama em que a mãe, sendo esta fumante (mesmo que não haja
pratica do habito no quarto). Os estudos ainda encontram-se em analise, no
entanto, dois fatores encabeçam a teoria: um é que com o uso da chupeta, e sua
estrutura externa, distanciam a boca do bebê de cobertas e roupas que podem vir
a interromper a respiração; e o outro fator é que o ato da sucção, auxilia na
consolidação do processo de formação das vias aéreas superiores.
As desvantagens
relacionam-se ao surgimento de otites (pois o seu uso prolongado pode aumentar
a propensão da migração de infecções para “Tromba de Eustáquio”) – assim,
sugere-se a limitação ao uso, apenas para o momento de dormir; há problemas de
infecções em geral, propiciadas pela má conservação higiênica da chupeta;
problemas dentais visualmente conhecidos – da mesma forma, sugere-se a
restrição no tempo de uso diário, bem como a sua retirada antes do período de
formação da dentição permanente; os problemas com a fala, podem surgir nos
primeiros momentos de emissão dos sons (“Gugu – dadá”) – etapa de extrema
importância na formação da fala; em crianças maiores há problemas na inibição
do desenvolvimento da linguagem – assim, é novamente sugerida a restrição do
uso ao momento do sono; com relação à redução no tempo de amamentação, a Organização
Mundial de Saúde traz controvérsias a respeito desta, apesar de afirmar que a
facilidade na sucção da chupeta restringe o “esforço” necessário para sucção do
seio materno, fazendo com que haja redução na produção de secreção da
prolactina, resultando em redução na produção do leite materno.
Ana Paula Lutaif
afirma que a retirada da chupeta precisa ser compreendida, primeiramente, sobre
o significado emocional de seu uso tanto para a criança como para sua mãe; só
então, podem ser estabelecidas maneiras e estratégias a serem transmitidas como
orientações aos pais – lembrando-se que uma criança nunca é igual à outra. O uso
/ desuso, vantagem / desvantagem da chupeta irá depender da duração e
freqüência deste habito, e que este está diretamente ligado à questões
emocionais da criança, ao prazer e à maneira de se acalmarem.
Brazelton afirma
que o uso da chupeta/ dedo também pode ser visto como um sinal positivo, pois a
criança, ao sugá-la, tenta aliviar suas ansiedades, também pertencentes a seu
crescimento.
A polemica em
relação ao uso da chupeta ou dedo também é trazida sob muitos aspectos, onde
autores enfatizam que o uso precoce da chupeta auxilia na não introdução do
polegar, com prejuízo na arcada dentaria da criança; por outro lado, Brazelton
afirma que todo bebê vem ao mundo com o “Reflexo de Babkin”, que o faz levar a
mão à boca, quando está irritado; por outro lado, os pais dão a chupeta por
acharem “mais bonito” e mais fácil de retirar, enquanto habito. No entanto, os
pais se desesperam com o uso da chupeta, quando percebem-se incapazes de
auxiliar os filhos, sendo que estes já se sentem auto-suficientes no alivio de
tensões e necessidades ao colocar a chupeta na boca; assim, os pais deixam de
ouvir as angustias de seus filhos.
As dicas mais
usuais para que a criança deixe a chupeta, pauta-se em informações já
conhecidas como: identificação do tempo da criança, ou seja, se já há um
amadurecimento, por parte dela, para deixar a chupeta, ou se há precocidade
materna, sendo o primeiro, deve-se aproveitar o momento, por exemplo, quando a
criança pega um resfriado, onde há maior dificuldade na respiração pelo nariz
entupido; o investimento na restrição dos horários de uso, reforçando o
crescimento da criança (e crianças grandes não usam chupetas); as dicas e
conselhos de outros pais que já passaram pela situação podem ajudar; o
incentivo a dar a chupeta (e todas as unidades que a criança possui) a Papai
Noel, Coelho da Páscoa ou próximo a datas (como aniversário), sempre por troca
por objetos, brinquedos, passeios, brincadeiras e nunca por doces; senão houver
data próxima e o momento for o da retirada, por um “pedido” (direto ou indireto
da criança), pode-se trabalhar com a “Fada da Chupeta” – aquela que passa
durante a noite, pega a chupeta e lhe deixa um presente.
O Dia das Crianças está chegando, caso seu
filho esteja no momento de retirada, esta é uma “deixa” excelente para que se
promova a “troca”; no entanto, caso ainda perceba que ele não está apto,
inicie, por volta de meados do mês de novembro próximo, o processo para entrega
ao Papai Noel – lembro-me que comigo foi assim, e coincidentemente, no momento
em que deixei, passou um avião e minha mãe, sabiamente, disse que era o “Avião
do Bom Velhinho”, dias depois estava lá o meu lindo presente deixado no Natal,
por aquele que fez lindamente parte da minha infância.
Sendo o dedo ou
chupeta, ambos necessários ao alivio de tensões, observa-se crianças mais tempo
com chupeta na boca do que com o dedo, já que a criança em atividade não coloca
o dedo na boca, mas pode fazê-lo usando chupeta. Assim, a “preferência” à
chupeta pode trazer aos pais este “inconveniente” a mais. Conclui-se, portanto
que o habito da chupeta é provocado pelos adultos que interferem no
desenvolvimento da criança; um comportamento que, num primeiro momento, é
natural e esperado do bebê, pode ser visto como distrator de conduta, como algo
ruim, sofrendo interferências que levam à instalação de um habito.
Desta forma,
autores e especialistas seguem com dicas para o uso adequado e não traumático
como: uso de bicos ortodônticos e adequados à idade, (evitando problemas,
principalmente na formação dentária permanente); esterilização constante de
chupetas; troca de chupetas mediante desgaste, jamais mergulhar a chupeta em
doces, açúcares, de forma a acalmar o bebê / criança, pois podem ser
provocativos de caries; restringir, ao máximo, o tempo de uso; evitar o uso de
“cordinhas” e prendedores com mais de uma unidade.
Ao leitor, neste
momento, cabe um alerta quando a este habito instaurado, bem como uma
“prevenção” para momentos vindouros. Se você, mãe, está no momento da retirada,
atente-se às “dicas”, não faça deste ato uma lembrança traumática a seu filho,
e como no processo do Desfralde, uma vez retirada, no momento adequado, para a
criança, não a retorne, mediante um capricho, manha ou chantagem de seu filho.
Como em todo processo de desenvolvimento da criança é preciso firmeza,
tranqüilidade e certeza dos pais frente ao ato. Jamais pense na retirada e em
problemas “pré anunciados”, já temendo que não será salutar. Lembrem-se, se
você, mãe, está nesta fase, é porque você mãe, pode não estar pronta para tal
retirada e não o seu filho.
Valesca Souza
Psicóloga Clinica e Espec. em Neuropsicologia
Contato: valescasouza@gmail.com
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