Queridos leitores talvez, não
levamos em conta que as crianças sofrem com a rotina. O nome é relacionado ao
adulto, mas hoje em dia elas também são acometidos por este “mal”, e minha dica
é para que não fechemos os olhos, pois “manha” pode ser um sinal de que também
estão “precisando dar um tempo à rotina”, um sinal de que as crianças também
sofrem de estresse.
O estilo de vida nas grandes
cidades, sedentarismo, má alimentação, e predisposição genética são causas
apontadas por médicos para doenças precoces. E até pouco tempo, estava no rol
destas doenças, surpreendentemente: hipertensão, colesterol alto, tendinite e
dor nas costas. E hoje, já se inclui o estresse à lista de problemas comuns em
adultos que começam a afetar crianças e adolescentes.
"Stress", termo criado pelo fisiologista americano
Walter Cannon (em português, estresse) é o conjunto de reações do organismo a
agressões de ordem física, psíquica e infecciosa, capaz de perturbar a estabilidade interna; ocorre com qualquer pessoa, independente de idade,
raça, sexo ou classe social.
Em períodos de estresse, a harmonia do organismo é afetada e
cada órgão passa a trabalhar em ritmo diferente dos demais. Em caso de
persistência por muito tempo, há quebra do equilíbrio interior e
enfraquecimento do organismo e, aí, manifestação de sintomas e doenças.
Enganam-se aqueles que pensam que este é um assunto tratado
atualmente. Pesquisadores acompanharam desde 1958 até hoje 6.574 pessoas, todas
nascidas na mesma semana. Cientistas da Faculdade de Medicina de Londres
detectaram que crianças de famílias em crise, marcadas por divórcios e
ambientes tensos, tendem a ter menor altura, comparadas à média. Levantam a
tese de que o estresse afeta o fluxo normal de hormônios responsáveis pelo
crescimento. A química do estresse afeta também regiões do cérebro ligadas à memória
e aprendizado. Se o estresse passa despercebido e não é tratado, corre-se o
risco do desenvolvimento de outros tipos de patologias, como a depressão, que
pode ser evitada caso os pais tenham tempo de olhar com calma seu filho.
A avalanche de informações de todos
os cantos do planeta entra em casas, escritórios e nas vidas de todos. A
modernidade trouxe consigo aspectos positivos, mas, também mais pressão,
cobranças, agitação, competitividade e menos cooperação e solidariedade. Como
dar conta de tudo isso? Orientar os filhos para que tirem o melhor de suas
capacidades e sejam felizes, ajudá-los a não se tornarem crianças, adolescentes
ou adultos estressados. Dosar a atividade física e intelectual e não esquecer
que existe também o lazer, o brincar, atividades fundamentais para o
desenvolvimento emocional e social da criança. "Mas não é bom começar o inglês desde já? E a natação, o judô, as aulas de violão?", perguntam pais
aflitos. "Quanto mais tempo fora de
casa, menos contato com a TV e videogames", dizem outros.
Muitas vezes, é com as melhores das
intenções que pais preenchem integralmente o dia de seu filho. São tantas as
tarefas e horários a cumprir, que não há tempo para não se fazer nada,
ou ainda para ficar sozinho com seus brinquedos e fantasias – criatividade,
produção de novas idéias e pensamentos brilhantes necessitam de espaços vazios
para se manifestarem.
O estresse na criança pode estar
relacionado a fatores internos e externos, como com o adulto. Os fatores
internos referem-se às características de personalidade, pensamentos e atitudes
da criança, diante de várias situações que precisam enfrentar na vida. Assim, o
estresse pode ser criado por ela própria, de acordo com sua maneira de perceber
a si e ao mundo ao seu redor.
As fontes internas de estresse na criança são: ansiedade,
depressão, timidez, desejo de agradar, medo do fracasso e de “punição Divina”,
preocupação com mudanças físicas, dúvidas quanto à própria inteligência, ou
mesmo medo de ser ridicularizada por amigos. Já as fontes externas de estresse ocorrem
devido às mudanças significativas ou constantes, responsabilidades e atividades
em demasia, brigas ou separação dos pais, morte na família, rejeição por parte
dos colegas, disciplina confusa por parte dos pais, nascimento de irmão, doença
e hospitalização na família, troca de professor ou escola, pais ou professores
estressados, medo de pai alcoólatra e até doença mental dos pais.
Os sintomas do estresse nas crianças menores de cinco anos
se manifestam através de: irritabilidade, choro mais do que o usual, pesadelos,
medos excessivos à escuridão, aos animais (ou a estar sozinhos), mudanças no
apetite, dificuldades na fala, retorno a comportamentos infantis já superados,
como enurese ou chupar o dedo. Já em crianças entre 5 a 11 anos vêm por meio dê:
irritabilidade, agressão, choros, necessidade de chamar a atenção dos pais
competindo com irmãos, apresentação constante de dores físicas sem existir doenças,
afastamento dos colegas.
O estresse pode acarretar problemas
escolares, dificuldades de concentração e desenvolvimento do pensamento
abstrato (não conseguir fazer cálculos matemáticos, senão, com “palitinhos” em
uma fase que esta habito não é mais comum). Crianças estressadas apresentam
perda de habilidades, o que implica em piores resultados no processo de
ensino-aprendizagem escolar.
Diante de tantos relatos,
observa-se que muitas crianças acabam pagando um preço alto, pois se
sentem pressionadas a dar apenas resultados positivos, a não frustrarem os
pais. Assim, seguem considerações que poderão contribuir para significativa
melhora. É muito importante que estejam atentos às situações de estresse a que
seus filhos ficam expostos, estas devem ser proporcionais à habilidade,
maturidade e estágio de desenvolvimento deles. Se por um lado não é adequado
que se proteja os filhos de problemas e conflitos com os quais se convive no
dia a dia, por outro, os pais não “têm o direito de jogá-los aos leões",
sem que antes adquiram estratégias para enfrentá-los de forma gradual e lógica.
Num primeiro momento, vale o ‘lembrete’ de que os pais precisam cuidar de seu
próprio estresse, pois são o eterno “modelo” aos filhos. Se diante de
"situações problema", pais agem com muita ansiedade, os filhos terão
tendência a repetir os mesmos padrões de comportamento. Atitudes positivas que
envolvam paciência, prazer, alegria de estar com a criança, aceitação e
forma simples e realista de encarar os desafios do dia a dia, podem incentivar
os filhos a resolver os problemas e desenvolver a sua auto-estima.
Respeito ao ritmo da criança: não sobrecarregá-la com
atividades extracurriculares, ouvir com atenção suas queixas (ela pode estar
vivendo um problema de fato) e, o mais importante: não fazer comparações –
irmãos são diferentes no dormir, comer, aprender, socializar-se e até caminhar –
são Seres Humanos, portanto, diferentes. Em caso de conflitos conjugais, é
fundamental evitar o envolvimento das crianças; muitas vezes elas se sentem
responsáveis pela situação. É importante que não se poupe a criança em demasia;
uma criança excessivamente poupada não tem chances de se preparar para o mundo.
Estimular sua independência é algo fundamental, respeitando sua etapa de
desenvolvimento natural.
Os pais devem evitar que os filhos acreditem que só são
valorizados e amados se tiverem um desempenho perfeito em tudo que
fazem. Em clínica é observado que esta é uma das principais causas de estresse
em crianças: a grande preocupação em corresponder às expectativas de sucesso de
seus pais; assim, não atribuem valor à pessoa que são, mas pelo que fazem.
O cuidado dos pais com o controle
do estresse infantil, juntamente com os profissionais envolvidos na educação
das crianças, pode levá-las à uma sociedade mais produtiva, mais feliz e mais
adaptada.
E neste momento os leitores podem
refletir, devolvendo a indagação do “falar é fácil”. Claro, a teoria está bem
distante da prática. Mas, atrelado ao final do ano, onde sempre se faz aquele
“balanço” geral, pode-se pensar, um pouco mais na saúde emocional dos filhos. Em
uma situação de “muito estresse” é preciso consciência de se focar a vida ao
prazer que ela dá, pois é muito curta e muitas vezes não se há tempo hábil para
dizer o quanto se ama e se deixa de dar aquele beijo, por se estar atrasado
para um compromisso e estressado com uma situação que outra pessoa nada tem a
ver. E quando se dá conta, tudo passou, perde-se, não se valoriza, ou mesmo se
“adoece” na ânsia de acompanhar o mundo e deixa-se para traz o doce prazer de
ver os filhos, simplesmente, sorrir.
A tarefa não é fácil, mas a ferramenta está dentro de vocês.
Valesca Souza
Psicóloga Clinica –
Especialista em Neuropsicologia
e-mail: valescasouza@gmail.com
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