De repente um fato: não se divide mais a
cama, o guarda-roupas sobra espaço, os porta-retratos vêm sendo re-arranjados e
as fotos substituídas, dinheiro entra em conta sob um calculo milimetricamente
feito à base dos 50%, a casa vive sob um “incomodo” silêncio (que se define
como “alivio”) sem discussões, gritos, ofensas e portas batidas, o relógio
parece ter parado, afinal: faz, arruma-se e ainda sobra tempo para assistir TV.
Mas, ao mesmo tempo, internamente, há um vazio, cuja memória insiste em
trabalhar no vaivém da recordação de momentos, festas, encontros, churrascos em
família, amigos conquistados, amigos em comum naquela noite de fondue e as crianças naquele auê, aquele
‘queijo em vinho’ sem filhos que terminou em uma noite inesquecível. De repente
uma arrumação na biblioteca, no tempo ocioso do final de semana, e despenca uma
caixa sobre a cabeça... o álbum de casamento com imagens e pessoas que, quando
comunicadas, irão fazer inúmeros questionamentos do porquê dos porquês... Por
outro lado, a busca desenfreada pela compra mais barata de novas mobílias para
se decorar um minúsculo apartamento, agora a ser adaptado para uma pessoa, com
visitas esporádicas dos pimpolhos. O reconhecimento do bairro em busca da
proximidade da lavanderia, padaria e mercadinho... não, voltar para casa da mãe
nem pensar... anos depois, a busca é pela liberdade e espaço próprio.
É, chegou a hora do social saber: o casamento acabou...
Mas as citações acima revelam alguns dos
mínimos movimentos e alterações que a nova realidade traz. No entanto, este
contexto traz a maior dificuldade: como
ficam os filhos diante deste novo cenário? Certamente o eterno e constante
preocupar-se fará parte do dia-a-dia deste...quer dizer... opa... não se pode
mais dizer deste casal... claro,
destas duas pessoas que devem priorizar o fato de que a separação ocorreu entre
o homem e a mulher e não entre o pai e a mãe. E, por mais que não haja convivência diária e troca /
divergência de idéias, um lado não pode ser mudado: pai e mãe devem sempre falar a mesma língua e discutir sim, quando o
assunto é a educação dos filhos.
Hoje em dia se vê inúmeros casos de
separação bem e mal sucedidos; inúmeros casos de restrições, proibições,
limitações, coações, criados pelo homem e pela mulher, tendo como parte central
a criança; onde, o egoísmo, a raiva,
magoa, rancor e luto da separação faz com que estas pessoas abortem o fato de
que há como pano de fundo para todos estes movimentos de insanidade um Ser
Humano, em conjunto e isoladamente, vivendo o luto pela distancia de se ter
unidos pai e mãe: os filhos. E, neste
momento, a mediocridade de um pensamento e o egoísmo em favor próprio pode
chegar a extremos: onde está hoje
Isabella Nardoni mesmo?
Por outro lado, a lucidez, sensatez e
compreensão de que casas diferentes, mundos distintos, paz, harmonia
favorecendo a si e aos filhos leva a inúmeros modelos bem sucedidos das
“modernas Família Mosaico”. Há anos convivi com uma família que uniu os três
dele, com as três dela, inusitadamente foram para uma lua de mel a oito e hoje
vivem a docilidade do mais velho dele ter se casado com a mais velha dela, e
terem um lindo neto, com a participação do ex dela, ex dele, das famílias...
todos em união.
Há casos e casos, situações e situações, do
extremo ao comum, do sensato ao insano, do tranqüilo ao mais dificultoso, em
fração de meses, quando se tem conhecimento do novo relacionamento do (a) ex,
do egoísmo e da inadmissão de ver um filho falar bem do (a) namorado (a) da mãe
(pai): “ela não pode dar banho no meu
filho”, “ele não pode dar um
chocolate ou um livro para minha filha”, “alô, é da escola? Se o pai for buscá-lo acompanhado, impeça e me
comunique imediatamente”, “está
decidido, ela terá duas festas, com o mesmo tema, mas eu não abro mão da
presença da minha namorada e não vou ficar aturando você aos beijinhos com seu
novo ficante”... Vejam quanta sandice....
Enquanto não se teve o cuidado de
minimamente escolher um lugar (tranqüilo, de preferência familiar, até mesmo a
própria casa, onde a criança possa exprimir toda e qualquer reação, sanar toda
e qualquer duvida, sem restrições e constrangimentos), sentar pai e mãe, em conjunto, relatando à ela a nova
realidade. De preferência com telefones, todos,
desligados com tempo disponível, sem agendamento de compromissos posteriores,
em que se tenha que recorrer ao relógio a cada instante. Ah, e se tiverem
outras pessoas morando junto (avós, tios, empregado), que seja solicitada a
saída do local.
A criança deve ser respeitosamente, a
primeira pessoa a saber da decisão tomada. Caso isso não seja possível (pois avós,
tios e alguns amigos já sabem em primeira instância), que sejam os pais, os
portadores da noticia. Sugere-se pai e mãe juntos para que a informação não
seja transmitida com requintes de magoa, ofensas e sentimentos advindos do homem e da mulher. Sugere-se, ainda, que este momento não seja ministrado por
familiares para que não haja tendências, tonalidades de voz maliciosas, que a
criança, sabiamente, tem o dom de perceber. Em caso de extrema dificuldade da
“união” destes pais para esta conduta, que se tenha a presença de um mediador
neutro, de conhecimento da criança, mas que não tenha qualquer relação mais
intima nem com o pai nem com a mãe (irmão dele, irmã dela, colega de trabalho
dele (a). Sugere-se ainda, que não sejam transmitidas informações “floreadas”,
como um lindo “conto de fadas” – que se almeje sim, um final feliz, mas que não
sejam transmitidas à criança promessas de presentes, passeios, prêmios, para
seu bom comportamento. Dados de ordem pratica, envolvendo sentimentos (“papai e mamãe não são mais namorados e não
irão morar mais na mesma casa”) e de ordem pratica (“a partir de agora você terá duas casas, dois quartos, irá ver o papai /
mamãe, em alguns dias, mas poderemos fazer ‘acordos’ dependendo da situação”),
devem ser foco principal da conversa.
Deve-se haver a permissão e liberdade para
telefonemas em qualquer momento, por qualquer motivo (vontade, saudade,
anunciar um dado novo, desde que não seja um novo relacionamento ou viagem –
isso deve ser feito pessoalmente com a criança). Nos mesmos não devem ser
feitas criticas / colocações em relação ao movimento / comportamento do outro
(“nossa, você está no Mac Donald’s em
plena terça-feira, sua mãe não faz mais comida para você não? – lembre-se,
você não participa, e não deve mais participar, da rotina de seu ex, e não sabe
o que o motivou a tal comportamento).
Todos os detalhes devem ser transmitidos à
criança, sem justificativas longas e de difícil compreensão à ela – deixe que
ela explore o assunto com suas duvidas, que vocês irão responder a todas, sem
criticas paralelas e entre dentes (“tá
vendo, ele está chorando porque você provocou toda esta situação”)... não
se esqueça, a separação não aponta culpados na rigidez dos 100%, se não deu
certo há um erro de 50% de cada um, não importa o motivo em que ela ocorreu.
Em um segundo momento, a família próxima
(avós, tios, padrinhos) devem ser comunicados (se ainda não ocorreu), sob a
orientação de que não sejam exprimidas opiniões, criticas e comentários
negativos em desfavor ao outro. Isso só diz respeito à criança. Um mal passo
paterno, um gênio forte materno, intolerância de qualquer lado, caráter, má
administração do lar e do casamento, maus tratos, vícios, desconfortos de um e
de outro, são movimentos adultos. A criança já tem fincado o amor e papel de
pai e mãe, não denigra esta imagem, deixe que ela, com o tempo, forme sua
própria opinião, com relação às ações, atitudes e convivência com pai e mãe. Se
o pai possuir, por exemplo, um vicio, mas é para criança seu “ídolo”, pois
senta e desenha com ela, não manche esta imagem, deixe que ela coloque o seu
juízo de valor, em relação ao vicio do pai.
A Escola, após ou paralelo aos filhos, deve
ser comunicada em reuniões agendadas e nunca em agendas e portão. De
preferência com os pais em conjunto, novamente – ali está o pai e a mãe do aluno X, falando de sua
rotina a partir da separação. E aqui, não cabem apenas questões burocráticas de
alteração de envio de carnês / comunicados / circulares. É preciso saber como
serão as visitações (criança que passa final de semana com o pai / mãe,
independente da circunstância, via de regra, apresenta alteração comportamental
na segunda-feira), se haverá alterações na rotina semanal, como a criança
reagiu; bem como é obrigação da escola informar sobre qualquer alteração
observada.
É importante que comunicados por telefone
(como quedas e febres, possam ser tranquilamente transmitias e a qualquer um
dos dois, sem comentários negativos, em relação à conduta tomada com a criança
na véspera: “é sempre assim, toda vez que
tá com ele é isso, febre, ele não mede a quantidade de sorvetes que dá pra
menina” – a Escola não precisa ouvir isso, está ali apenas como porta-voz
de uma informação de seu filho, o fato está consumado, os culpados, não
interessam à escola). É importante que seja mantida a relação de presença e
participação do pai, mediante eventos / festas / interações para com a Escola –
Pais, vocês não sabem o quanto muda a auto-estima e volição de seu filho quando
você está na Festa Junina vendo-o dançar – esqueça temporariamente que ir à
festa significa encontrar a ex-sogra, vá pelo seu filho... mais tarde ele irá
te agradecer com o coração.
Falar de separação e alterações conscientes
e inconscientes que este processo causa internamente nas vidas do homem, da
mulher e filhos é estar em constante orientação. Questões advém das formas mais
diversas, e por isso, sugere-se a busca de auxilio profissional. Em caso de
crianças mais velhas, muitas vezes, é interessante colocá-las em terapia antes
do “anuncio oficial”, para que alterações possam já estar sendo trabalhadas.
Este é um relato de conscientização e orientação – apresente-o a amigos,
familiares, colegas que estejam inseridos neste cenário – infelizmente, tão
comum nos dias de hoje. É claro que todas estas informações não surgem apenas
das vivencias profissionais. A leitura deste vasto conteúdo é bastante extensa
e para tanto hoje destaca-se: “Manual de
pais e mães separados – guia para educação e felicidade dos filhos”, Marcos
Wettreich, Editora Ediouro, 165p.
Como em todos os processos e momentos do
desenvolvimento emocional, o que se busca é a felicidade de todos, bem estar e
harmonia. Boa sorte nesta nova jornada. Mas jamais esqueçam de seus filhos.
Valesca Souza – CRP 06 /
50721 – 3
Psicóloga Clinica –
Especialista em Neuropsicologia
e-mail: valescasouza@gmail.com
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