“queru agradesser aos zamigos que tava
torcendo por mim mais infelismente eu não paçei no Enem a prova de redassão
tava mto dificio. Eu fis tudo e não entendi porque não paçei, mas sem pobrema
anu que vem nóis tenta dinovu. Obrigada a todos pela forsa! No português eu sô
bom a matemática que me derroboa”
“Genti assertei 31 questoes no total. Dá
pra medissina? Achu que fiz uma boa redassão. Me ajude”.
Caros
Leitores, o bate papo deste mês começa assim mesmo, com uma das sequencias mais
“gritantes” de erros que já li. Penso que estes dois trechos justificam o
numero divulgado pelo MEC (Ministério da Educação) de que cerca de 500 mil
alunos “zeraram” a prova de Redação do ultimo ENEM (Exame nacional do Ensino
Médio), sendo que, dos quase 7 milhões de inscritos, e que compareceram ao Exame,
apenas 250 obtiveram a nota máxima (1000) na referente prova. Para os
apreciadores do bom português, ler esta postagem que circulou em Redes Sociais
e sites de noticias da internet, me levou a grande reflexão. Primeiro cheguei a
pensar que havia sido uma “brincadeira do aplicativo whatsapp” e que a Rede Social se incumbiu de manter a circulação
para que “comentários sarristas” surgissem. Mas, em um segundo momento, passei
a olhar o fato com tristeza e realidade: Nossos
jovens estão escrevendo desta maneira e os pais parecem estar cada vez mais
distantes do “mundo tecnológico” dos filhos. Uma realidade que chegou, se
instalou e parece ter vindo para ficar.
Aí
ouço: “é preciso compreender que a
velocidade mundial é galopante e que o cérebro do jovem precisa acompanhá-la”.
Estes mesmos jovens afirmam que a escrita precisa chegar ao outro com “poucas palavras” e “total compreensão”. É preciso conversar com muitos, ao mesmo tempo,
e se fazer jus à uma lista
interminável de contatos. Muitos dos nomes desta lista, não se conhece, foi
apenas “inserido” em um grupo de “bate-papo” com outros tantos; outros muitos
contatos foram inseridos na fila do cinema, saguão do Aeroporto, Balada, banheiro
do Shopping e, uma semana depois já se lê: “amigos forever”.
E,
com tantos assobios sonoros concomitantes, é preciso dar conta de todos os
assuntos. Desta forma, é “trabalhoso” encontrar o acento no teclado virtual e a
ação instantânea, foi “criar” um “H” no final da palavra, e não se escreve
mais: “não é”, e sim “neh”. Como é longo escrever: “gostei muito do que você escreveu”,
então se “traduz” um sentimento com: “kkk”. A legenda das fotos postadas instantâneamente
é resumida em: “encontro cazamiga”,
claro, para quê escrever: “encontro agradável
com as amigas”?
Calma,
Caros Leitores, eu não me enganei, quando direcionei o texto aos pais de Educação
Infantil e futuros pais de jovens. Minha reflexão sobre o tema segue, ainda, sobre
a “distancia” que estes jovens possuem de seus pais. Pais estes que, muitas
vezes, nem chegam a saber o real motivo da pontuação de seu filho em um Exame,
muito menos quem compõe esta “lista de contatos”. Não possuem conhecimento de
que a explicação do “Zero da Redassão” do filho está nesta escrita veloz e
incorreta. Ao contrario, se iludem e enchem a boca para falar aos amigos: “Meu filho (a) de 18 anos me acompanha
socialmente”. E este filho está ali com o pai, sim, mas “conectado full time”, graças aos avanços de
conexão e suas exigências por aparelhos velozes e modernos, onde a “internet 4G
pega em qualquer lugar”. E o preço desta alta velocidade é: “Sim, seu filho está, mas não está”. Pois
a velocidade o afasta do convívio, os distancia do diálogo e os aproxima de um
mundo veloz, irreal, perigoso e gramaticalmente incorreto.
E
minha pergunta está: “Você, pai de
adolescentes, quando foi a ultima vez que viu o caderno escolar de seu filho?”;
“Você sabe como está a qualidade da letra
e redação de seu filho?”; “E você,
pai de alunos em idade escolar, já presenteou seu filho com um Tablet?”; “Permite que seu filho utilize o equipamento
frequente e deliberadamente, sem uma rotina pré-estabelecida?”.
Pai
e Mãe, vocês sabiam que pesquisa recente trouxe que o uso excessivo de teclados
prejudica o desenvolvimento salutar de uma área cerebral fundamental, o Lobo
Frontal, onde está localizada a Área Motora – uma das funções mais importantes
neste momento etário de seu filho: a consolidação da escrita?
É
muito triste ler: “derroba”, “redassão”, “dificio”, “paçei”, “medissina”, “anu”, “nóis”.... e saber
que este mesmo pai nunca mais viu o caderno do filho depois de seu ingresso no
Ensino Fundamental II.
É
muito triste saber que o avanço tecnológico traz a rapidez do toque, a
“inserção” de conversas em excesso e aumenta a escassez junto à Leitura e
Escrita. O pai que presenteia o filho com um “eletrônico de ponta”, na maioria
das vezes, o afasta do Livro Infantil, quando não é feita a “dosagem” para o
uso.
E
o resultado pode não estar lá na frente, com o aumento abusivo de “zero’s” na
Redação do ENEM. Utilizo em meu trabalho um instrumento de avaliação chamado “Teste
Guestáltico de Bender”, Um que fornece a
“Idade Motora” do paciente, revelando atrasos significativos junto ao processo
de consolidação da escrita. E, pasmem, é raro quando avalio um destes, e creio
que já apliquei mais de uma centena, e encontro uma criança dentro ou acima dos
padrões que se espera para sua faixa etária. Em sua maioria, a idade motora
concentra-se nos 6 anos, o que para uma criança de 09 / 10 anos, é considerado
um diagnóstico “Limítrofe” – e entende-se como a idade-início da Alfabetização,
mas o pouco estimulo transformou-se em déficit, que precisa se correr atrás,
pois está prejudicando outras esferas do aprendizado
E
assim, segue a Cadeia Acadêmica em Decadência: Não se lê – escreve-se pouco (e
com preguiça) – sem vontade de se formular uma frase completa – o Lobo Frontal
trabalha cada vez menos – a adolescência chega – as mensagens instantâneas
passam a fazer parte da rotina – o Ensino Médio chega ao fim – o pai não sabe a
cor da capa do caderno do filho – e a “Redassão” deixa a desejar e vira piada
nas Redes Sociais e chamadas de programas televisivos.
O
sonho de se encher a boca e se dizer: “Meu
filho está cursando MediCina” é engavetado. E seu papel junto ao incentivo,
supervisões e correções necessárias, está onde? Será que no momento em que você
deu o eletrônico, mas não colocou regras e limites em sua utilização? Será que inserir
ferramentas de lazer, e “acompanhar o tecnológico” não afastou seu filho da
mais importante ferramenta de prazer, essencial para todo seu desenvolvimento:
A Leitura?... Será?.... É... seguindo a modernidade.... #FicaDica
Boa Leitura, boa reflexão a todos e até
o próximo mês. Sintam-se a vontade para debater, colocar suas opiniões e visão
a respeito deste assunto.
Para
saber mais:
1. “Os erros mais comuns
de quem teve a redação anulada no Enem”. Disponível em: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/os-erros-mais-comuns-de-quem-teve-a-redacao-anulada-no-enem
2. “Falta de escrever à mão pode prejudicar
desenvolvimento cerebral das crianças”. Disponível em:
Valesca Souza
Psicóloga Clinica –
Especialista em Neuropsicologia
e-mail: valescasouza@gmail.com
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