quinta-feira, 31 de março de 2011

NOSSAS CRIANÇAS, JOVENS E O MUNDO DIGITAL

Uma linha tênue entre este Universo e as mais diversas relações

Queridos Leitores, hoje em dia “nossas crianças, pré e adolescentes” embarcam em uma vivência jamais sonhada há uma década. “Dominam” o que muitos adultos sequer sabem a empregabilidade. Falam com propriedade de “mouse”, “site”, “acesso”, “blogs”, “e-mails”, “MSN”, “DS’s”, “Vídeo e Mini-games”, ”Ipod’s”, “Iphones”, “Twiter”, “Facebook”, “Orkut Fake”, “Tumblr”...

É... bem vindo ao mundo digital, à Internet e rotina de muitas residências – resultado do avanço tecnológico que a modernidade apresenta e o cérebro “precisa” acompanhar, visando o futuro, acadêmico, social e profissional de cada um. E é sobre esta relação: “nossas crianças e jovens (cada vez mais precoces) e o mundo digital” que discorro nosso papo deste mês.

Tudo isso ocorre graças a uma área no cérebro, o Néocortex – responsável pelo estabelecimento de novas conexões cerebrais – localizado no Lobo Frontal, considerado a Área Nobre Cerebral, por abarcar grande parte de nossas ações e bom desenvolvimento diário, como atenção, planejamento e execução de ações, elaboração e mudanças de estratégias. Somos movidos por novas experiências e o Lobo Frontal, está por “acompanhar” esta evolução, através da Plasticidade (“ajuste / adaptação / adequação”) Cerebral que os “tempos modernos” proporcionam.

Nossas crianças hoje, já desde muito pequenas, se adaptam a estas mudanças (ao que parece, com o Néocortex “melhor preparado” para acompanhar esta evolução), até mesmo antes do processo de Alfabetização, antes da consolidação da “língua mãe” – o português, e já familiarizados a termos da língua estrangeira. A internet é uma ferramenta utilizada por todos, com muitas vantagens, afinal o domínio desta torna-se um ganho futuro – tanto que escolas investem no incentivo à aulas de computação. No entanto, tudo que vem, para facilitar pode acarretar em déficits secundários (ou “desvantagens”) – quando utilizada apenas como única fonte de comunicação.

Hoje vemos crianças dominando o videogame e o teclado de computador, mas sem conseguir consolidar o processo de letra cursiva (afinal o lado motor, não é “treinado”, a área Pré Frontal do Cérebro) e pais se distanciando. Quanto mais se domina o mundo digital, mais “alguns” pais se distanciam destes “acessos”, preocupando-se menos como os filhos redigem dentro e fora do ambiente acadêmico. O programa da TV é mais interessante do que o site de Jogos e Entretenimentos que o filho está na mesma hora; ou ainda, um “bom” recurso para que se tenha concentração em um trabalho extra time a ser entregue e que a interrupção do filho gera atrasos.

Hoje adolescentes falam muito mal e escrevem de maneira demasiadamente incorreta, devido às abreviações e neologismos que a rapidez de uma conversa virtual exige, e com isso, o português torna-se deficitário, incorreto e “pobre”, quando há em provas de Vestibular redações com “naum” ao invés do correto “não” e desconhecimento de temas que jornais, revistas e a própria TV estampam diariamente. Sim, somos mais culpados por estas imperfeições do que imaginamos, pois, em nossos momentos informais, e-mails e bate-papo pessoais também escrevemos “pq” ao invés de “porque”, “vc” ao invés de “você” – mas fomos alfabetizados em um momento onde hoje podemos distinguir uma abreviação da forma correta da escrita, mas nossas crianças estão sendo apresentadas ao “pq” e ao “vc” como formas primárias de escrita, isso é preocupante.

Associado a isso, a adolescência está cada vez mais solitária e individualizada. É mais agradável conversar com um amigo no MSN (ou vários ao mesmo tempo) do que jantar com os pais, falando sobre o dia na escola. E assim, pais, não conhecem mais amigos, pais dos amigos, de onde conheceu, até onde estuda, pois tudo está atrás da tela do computador – sendo que muitas vezes, nunca se viu pessoalmente quem do outro lado está. O que se torna uma ameaça, pois da mesma forma que se fala um “oi” e se “combina uma balada”, fala-se com quem não se conhece e “se compra drogas ilícitas” – tudo é virtual. Mas o modelo é delicado, pais compram eletrônicos, livros, jantares, passagens aéreas, roupas, através de um clic com debito em conta. Portanto: é vantajoso acompanhar a modernidade e vangloriar-se em uma roda de amigos, do domínio de um filho ao mundo virtual, mas é desvantajoso, quando se fala em afastamento, falta de dialogo, “válvula de escape” – quando o pedido para brincar de um filho é visto como empecilho para o futebol e a novela da TV. Como se vê, a linha é tênue...

“Controle” é sempre algo imposto, algo que se vê, muitas vezes, como “abuso de poder” em se “Ser Pai” ou “Mãe”. Minha sugestão diante dos pedidos e solicitações dos filhos para uso da internet está em partilhar com estes o que se vê e acessa na internet. Apresentar a eles sim a realidade do: “este conteúdo ainda não é próprio para sua idade”; “mas meu amigo vê” – pode ser a resposta pronta e imediata. E aí, “ser careta” neste momento não se faz mal: “seu amigo vê, os pais dele permitem, mas aqui em casa, o que se pode limita-se a estes sites”. Com os pequenos, as colocações de dias e horários sem interferência nos assuntos escolares, bem como em companhia deles, ou bem próximos, “vigiando” o que se acessa é sempre uma boa “medida” para este “partilhamento”. Com adolescentes, entradas “incertas e inesperadas” no quarto / escritório, mas sem a invasão direta do “com quem você está conversando?“, ou “o que você está acessando?” pode ser um “gancho” para se estar atento a seus movimentos. Partilhe algo visto na Internet, fale sobre um filho de amigo que está no MSN, em busca do saber se está na lista de seu filho também, como uma “deixa” para se “investigar” a lista dele. “Mas isso não é invasão de privacidade?” Não, se for realizado de forma tranqüila, parceira e amiga e não diretamente investigativa, e em momentos que seu filho não está diante do computador – isso sim é invasão de privacidade.

A questão do tempo que se permanece na “net” é algo de extrema importância. Especialistas das mais diversas áreas, ai estão todos os dias falando sobre postura, visão e LER (Lesão por Esforços Repetitivos – causados pela digitação em excesso). Tudo que vem sob exagero em detrimento / prejuízo a outros “setores” causa discórdia. Em se tratando de família, deve-se primar desde pequenos, pelo período de permanência frente a uma tela (mesmo aos pais de adolescentes que freqüentam lan house... onde o ideal é que não se faça, pois a perda de controle é inevitável. Mas se estar neste local é necessária, procure conhecer o local e saber como se dá a limitação de entrada e permanência em sites – isso não é exagero, é precaução com seu maior bem. Porém é preciso que a “colocação” de horários, regras e limites do tempo de permanência diante do computador, se faça necessário, sempre alertando os filhos dos prejuízos que o excesso traz, bem como a “retomada” do tempo de permanência em família.

No Consultório, costumo fazer muitas indicações bibliográficas a pais e aqui a sugestão é a mesma. Encontrem um “minuto”, visitem sites pertinentes à faixa etária de seus filhos e os indique, como uma maneira de se saber o que eles visitam no mundo digital. Além do “oferecer-se” para auxilio de uma pesquisa escolar, o que os aproximará ainda mais. Precisamos de filhos, mesmo sob o domínio do virtual, próximos a pais, compartilhando medos, duvidas, questionamentos, amizades, laços e curiosidades, para que todos estes fatores não sejam limitados à tela, sem que você, pai / mãe, saiba o que se passa pela cabeça de seu filho – hoje “tomada” pelo mundo digital.

Ah... vem aí a Páscoa. Sem me estender, apenas relembrando o texto de dezembro/2010 (falando do Papai Noel), deixem que a magia do Coelho enriqueça e alegre ainda mais o domingo de Páscoa... vivam este momento, preparem as pegadas do coelho... Como viram no texto, a infância está indo embora mais depressa do que pensamos. E alguns momentos, como este, rememora a docilidade que se tem em casa: Crianças!!! Boa Páscoa a todos, até o próximo mês.

Valesca Souza

Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia

email: valescasouza@gmail.com

Um comentário:

  1. Parabéns, Valesca!
    Adorei mais esse texto.
    São dicas valiosas e até certo ponto fáceis de serem executadas!
    Bjs.
    Juliana Cachich

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