terça-feira, 5 de julho de 2011

Rumos da Educação: A permissividade dos pais

A educação no Brasil hoje é foco de grandes estudos, preocupações e inesgotáveis questionamentos de todos os envolvidos – desde o alto escalão governamental (com políticos sérios realmente empenhados para esta melhoria), até nós: pais, educadores e profissionais da área (que como uma gota neste imenso oceano buscamos o melhor para nossas crianças.

O “alto escalão” através, inclusive de veiculação de mídia, tem conhecimento de alguns pontos precários de nossa educação; com projetos e diretrizes para melhor conduzir um digno futuro acadêmico para “nossos brasileirinhos” (como define a Presidente Dilma Rousseff).

Contudo é importante suscitar e alertar para o inicio de tudo, a base, a essência: a Família. Não há como não alertar, buscar, orientar, prosseguir com a informação e formação de crianças e jovens, se a desestrutura vem de onde tudo deveria começar de maneira séria e digna: a Casa.

Em seu livro: “As crianças aprendem o que vivenciam”, Ed. Sextante, Dorothy Nolte e Rachel Harris percorrem caminhos, para darem o seu recado: “Crianças que ouvem gritos, crescem gritando e crentes de que é desta maneira que conseguirão o que desejam”; “Crianças que crescem apanhando, crêem que bater é a solução mais rápida para se dar um recado”; “Crianças que ouvem mentiras, até tolas, como ao tocar o telefone o pai diz: ‘se for para mim, diga que não estou’, facilmente mentirão sobre lições não feitas, objetos de amigos em seu poder, pegos indevidamente, brigas com colegas que elas mesmas motivaram e dizem: ‘não fui eu’”; Crianças que ouvem um não pode da mãe, mas que se remetem ao pai e este permite, vão acreditar que é preciso encontrar na vida pessoas como o pai, que tudo permitem e não dizem não, assim se faz tudo que se quer”.

Os pais são “Espelhos” aos filhos: você Mãe é o primeiro modelo de Figura Feminina, ao qual seu filho tem contato no mundo; e você Pai é o primeiro modelo de Figura Masculina. Portanto, quando crescem, sendo estes, modelos positivos, com postura firmes, um “dizer direcionado”, à criança / jovem, ficarão frases, conceitos, valores e princípios transmitidos por “estes” modelos.

Mas, o que é um Modelo? Aurélio Buarque define como o substantivo masculino ‘que serve de objeto de imitação’. E hoje vemos, feliz e infelizmente, bons e maus modelos sendo “imitados”. A qual destas duas “classes de Modelo” você quer se inserir para que seu filho o imite?

Portanto este relato tem por finalidade a reflexão de qual Modelo você Pai, você Mãe, quer ser ao seu filho. E este Modelo não se restringe apenas ao menino que imita o pai quando o vê se reparando para um passeio e quer passar gel no cabelo, ou à menina que quer passar a maquiagem da mãe. O copiar aqui vai além de uma simples estética semelhante; se copiam ações, como mencionam as autoras, atos e valores. Vejam este breve “pedido” abaixo de um filho aos pais:

Ø Mãe posso ir brincar lá no play?

Ø Agora não, daqui a pouco já vamos almoçar.

Ø Pai posso ir brincar no play?

Ø Desce lá filho, vi pela janela que seu amigo do 3º está lá com o patinete dele; desça e mostre o que o papai te trouxe dos Estados Unidos.

Fora isso, aos pais, que não podem estar em férias com os filhos, “caem” na opção do Curso de Férias oferecidos pelas próprias escolas, ou pela escola de Educação Infantil que o filho esteve anteriormente. E aí entra a lista do que “pode versus não pode”, “do que é permitido ou não” neste período – e que muitas vezes, acaba por “invadir” os meses seguintes. A Escola “permite” o não uso do uniforme e seu filho pede para ir com a aquela nova que ganhou da tia que voltou da Disney (lembrando que ele vai rolar no chão e brincar o dia todo). Você vai ceder a este pedido de “exibição” de seu filho, sabendo dos riscos deste pedido? – sim é uma exibição, pois a primeira infância “exibe” o que tem, como “característica” da fase: “eu tenho”, ou, “o meu é o melhor”.

E, ainda sobre o “Curso de Férias”, não há neste mês o “dia único de se poder levar brinquedos”, o mês é “liberado”... E você, separa no dia anterior, com seu filho os brinquedos para ele levar? Diz “não” ao mais valioso (financeira e emocionalmente) ou deixa fazer as vontades e desejos de seu filho, ciente de uma possível danificação? E quando você diz “não” a seu filho, já o surpreendeu colocando “escondido” na mochila? – por não respeitar e acatar a sua decisão com todas as justificativas (lembrando que “não pode, porque não e ponto” – não é resposta correta ao seu filho). Ou você, culpada por deixar seu filho na Escola bem no mês de julho, quando seu chefe negou o pedido de afastamento, por duas semanas que fossem, permite que seu filho carregue consigo brinquedos, de maneira desmedida? Pois, se quebrar, não há a importância o valor emocional e financeiro do momento em que foi adquirido, pois o mês “precisa” passar rápido para ele não sentir. E você, certamente, será definida, por seu filho, entre amigos: “meu pai?... ah ele deixa...”, “eu nem preciso pedir... minha mãe deixa...”

As citações acima são conhecidas e/ou já vistas? Pois bem, parece que a cada dia nossos filhos estão mais próximos de realidades acima. Pai que diz sim, mãe que diz não e vice-versa. E os filhos? Verdadeiros iô-iôs diante de um casal que não se entende. Talvez nem sob os mesmos argumentos, mas o que se vê são divergências cada vez mais gritantes aos olhos de todos.

A criança citada no exemplo do patinete vive diante de um pai que ostenta um presente importado – e aí imbuído de muita culpa, afinal o trabalho fez desse pai um nômade em aviões. E como suprir a ausência na educação de um filho, sem que o gerente entenda como um coração de pai saudoso? Cobrir este filho de presentes e hiper valorizá-lo, como se um patinete importado tivesse em seu mecanismo algo de muito melhor e surpreendente, em relação ao fabricado no Brasil e vendido em todas as lojas de brinquedos daqui.

E vamos além, sabe qual será a conversa desta criança em seu grupo de amigos? “O meu brinquedo é sempre muito melhor, porque não é brasileiro. O meu pai é muito melhor, porque a empresa que ele trabalha é muito mais poderosa, e manda ele viajar para fora e trazer muita coisa”.

Falamos de uma criança que em meio à primeira infância, já alimenta em si o sentido do materialismo, da ridicularização ao objeto do amigo, e a desvalorização ao próprio país. E, ainda, é aquele aluno que diante de uma advertência de um funcionário da escola que estuda diz:: “eu vou sim, quem você pensa que é? Meu pai paga seu salário e de pelo menos de mais uns três aqui”.

E amanhã, no café da manhã, seu filho de 16 anos desce as escadas com uma menina, que não era a “ficante” do mês passado: “ah... tá liberado, minha mãe deixa minha ‘mina’ dormir em casa”; sua filha, de 15 anos, não comunica uma viagem, com mais dois casais, onde o mais velho acabou de fazer 18anos, e é quem irá dirigir o carro (quatro atrás e dois na frente): “ah... desencana, eu nem falei pra minha mãe que eu vinha, mas ela sempre deixou eu fazer o que eu quisesse até levar meus brinquedos mais caros para escola...”.

Encerro este relato indagando-lhes: a permissividade de hoje é o que você deseja ao seu filho? Seu filho realmente está preparado para vida, fazendo o que quer, afinal, se você não deixa, seu marido libera? Um “não” hoje, não poderá ser o freio para todos os rompantes lá na frente? Pensem que a “culpa” pelo trabalho e a conseqüente ida dele para escola em janeiro e em julho, não pode ser vista como a frase do “tudo pode em nome da minha consciência tranqüila....”. Eles “Aprendem o que Vivenciam....”.

Valesca Souza

Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia

e-mail: valescasouza@gmail.com

Um comentário:

  1. Parabéns mais uma vez...Aprendendo muito com Valesca! Um beijo, Glauce (Mãe do Enzo-Jd I)

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