quarta-feira, 1 de julho de 2015

UM PERSONAGEM QUE NÃO ESTÁ NA LITERATURA, MAS NÃO SAI DE NOSSAS MEMÓRIAS!

           É... 2015 já deixou pra trás seu primeiro semestre. O mês de julho chegou, mas, para muitos... é mês de trabalho... vida que segue! E muitas crianças tem destino certo: a casa da avó! Aquele lugar onde “tudo pode”, “tudo se tem”, menos regras, limites, horários, rotina, obrigações e o único “tem que” obrigatório: é a diversão e o ser feliz. Mas o “papo” deste mês irá começar com uma perguntinha rápida:
Hoje quem são hoje os homens entre 40, 50 e 60 anos de idade?”.
O perfil talvez seja fácil traçar: homens grisalhos, vaidosos, preocupados com a saúde, com certa estabilidade financeira, alguns frequentando academias, ativos profissionalmente, com expectativa de vida elevada, casados, alguns no segundo ou terceiro casamento, pais de jovens ou até de homens e mulheres (estes já com formação superior, pós-graduados, até casados e com filhos). Ou seja, hoje, aos 40, 50 ou 60 anos os homens já são avôs... Agora:
Quantas vezes é lido na literatura clássica infantil o avô como personagem?
É... parecem que não estão nos “clássicos”. Há: Tio Patinhas, Vovó Donalda, Chapeuzinho Vermelho e sua Vovozinha, D. Benta... Definitivamente parece que Vovô não tem espaço neste universo. Até “Dia da Avó” há (26 de julho, olha lá... não esqueçam aquele mimo especial), mas não há Dia do Avô.
Nem na internet são encontrados autores falando sobre os avôs – a menos em casos, onde o contexto é outro: guarda judicial, por exemplo. Sabem de que ano é datada reportagem da Revisa “Pais & Filhos” sobre o assunto? Abril de 1998... E só!
Mas o que se sabe é que hoje por volta dos 40 / 50 anos muitos homens já são avôs, pelo alto índice de gravidez na adolescência de seus filhos. Também se sabe que por esta irresponsabilidade, descuido ou “acidente de percurso”, estes homens estão assumindo outra responsabilidade: a da guarda judicial de seus netos. E, pensando no bem estar destes, já ouve: “quero estar bem para ver meu neto formado”; netos que chegaram inesperadamente e os pais mal se sustentam e é dos avôs a responsabilidade pelo criar, alimentar, educar e garantir os estudos. E, não obstante, já se vê trabalhos de Conclusão de Curso e Discursos de Formaturas direcionados à esta atenção, carinho e cuidado – até mesmo, sem a citação dos pais, algumas vezes, inexistentes na vida destes jovens!
Também são encontrados homens que, em seu segundo casamento, aos 50 anos, são pais de crianças na primeira infância e, ao mesmo tempo avôs, pois os filhos do primeiro casamento já são pais. E aí aquela confusão de que uma criança aos 2 anos de idade é tio de outra com 4 ou 5. E aqueles que já são avôs, separados e iniciam novo relacionamento: como a namorada do avô é chamada pelo neto? E homens que assumem a homossexualidade após a separação, como apresentar o “namorado do avô ao neto?”. É.... este novo “mosaico familiar” tem momentos que dá um “nó” mesmo!
Mas o tema veio à pauta, não pela chegada do mês de julho, nem mesmo para relatar a “Família Mosaico” (que a adaptação e contexto têm feito a diferença), mas por três momentos:
Em uma de minhas férias, corria pelos canais da TV, quando vi cenas-reprise da novela, “Era uma Vez”, que foi ao ar em 1998. Nesta, dois avôs “brigavam” pelo bem estar de seus netos: o Vovô Xistus (vivido por Cláudio Marzo), empresário, poderoso, rico e sem “trato” para transmitir carinho aos netos e o Vovô Pepe (vivido por Elias Gleizer), um senhor humilde, que morava em um sítio e seu dom era fazer com que as crianças vivessem felizes e saudáveis o período da infância.
Momentaneamente voltei no tempo e lembrei dos meus: o paterno, senhor simples, sem estudo, como Pepe, mas, de certa forma, frio como Xistus. Um criador de pássaros que transmitiu muito enquanto aluno eterno da “Faculdade da Vida”, com seus ditos populares, frases inusitadas e a peculiar habilidade em fazer paçoca no pilão manual. Quando ele faleceu, eu só tinha 06 anos de idade, mas estas imagens estão vivas na memória até hoje. Já com meu avô materno o convívio foi menor: um caminhoneiro que nos visitava a cada viagem que passava pela rota paulistana. Mas era pouco amável e carinhoso. Separado de minha avó para constituir nova família, precisava reconquistar os filhos, antes mesmo de demonstrar afeto às netas, sendo assim, o trabalho de quem não consegue transmiti-lo, é duplo.
E uma terceira situação: as crianças estão precisando resgatar seus avôs. Estava em uma avaliação, onde a criança contava histórias projetivas, quando deparou-se com uma imagem em que narrou: “era uma vez um macaco que viajou na imaginação ao ouvir as histórias contadas pelo seu avô...
Tudo bem... a avó é mais carinhosa, dengosa e lembrada por seus quitutes feitos para agradar e “estragar” o neto. Mas o avô moderno, em muitas famílias, tem papel primordial. Este avô leva e traz os netos da escola e de atividades extracurriculares, dão broncas, quando precisam compartilhar da educação, são responsáveis por gerações e gerações que irão carregar o seu sobrenome.
Dependendo do porte físico do vovô, lá está ele, jogando futebol com o neto, ou indo, regularmente às bancas de jornal para comprar figurinhas do álbum. Mas também, encontramos aqueles que amam seus netos, mas não conseguem expressar. Não são Xistus nem Pepe, mas se emocionam ao ouvir pela primeira vez o neto dizer: “Vovô”. E você papai já pensou de que maneira e como quer ser lembrado pelo seu neto: um Vovô Xistus ou um Vovô Pepe?
Os homens de hoje pensam na procriação, no que deixar sobre costumes, valores e tradição a seus filhos, desejando que eles sejam “homens de bem”. Mas será que pensam que terão um ponto único na memória de cada um daqueles que carinhosamente um dia o chamarão de Vovô?
Pais, ensinem seus filhos a serem pais, pois só quem sabe ser, sabe ensinar. Aliás, ratificando... não ensinem, simplesmente amem, pois doçura e afeto não se ensinam, e são o cerne da figura do avô.
E vocês, Pai e Mãe, fizeram uma viagem no tempo? Como foi sua infância e convívio com seus avôs? (se assim puderam). Não deixem para o próximo feriado a visita ao Vovô, pois o convívio (daqueles que ainda o possuem), infelizmente, pode ser curto, passa muito rápido e deixa marcas inesquecíveis desta figura, denominada: “Pai com açúcar”.
E.T.: aqui, além da Homenagem a todos os Jovens-Avôs e aos meus, bem como meu pai – gostaria de transmitir meu agradecimento aos “papeis” interpretados por Claudio Marzo e Elias Gleizer, que brilhantemente interpretaram “Xistus” e “Pepe”, e hoje não estão mais entre nós, e, principalmente Elias Gleizer, uma pessoa que não se casou, nem teve filhos.... Seus netos foram apenas os da ficção!!
Boas férias a todos, e que a “Casa do Vovô e da Vovó, continue sendo o local de Grandes e significativas marcas”.
Valesca Souza 
Psicóloga Clinica – Especialista em Neuropsicologia

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